sábado, 7 de dezembro de 2013

REVIVE

Nesta publicação irei falar de vectores  uma das áreas em que o técnico de saúde ambiental também participa e onde tem um papel fundamental na participação do programa REVIVE (Rede Nacional de Vigilância de Vetores).
O Programa REVIVE insere-se no âmbito de atuação do Técnico de Saúde Ambiental, pois no Decreto-Lei nº 117/95, de 30 de Maio referente ao conteúdo funcional do Técnico de Saúde Ambiental na alínea a) do artigo 1 refere que: “O Técnico de higiene e saúde ambiental atua no controlo sanitário do ambiente, cabendo-lhe detetar, identificar, analisar, prevenir, e corrigir os riscos ambientais para a saúde, atuais ou potenciais que possam ser originados por fenómenos naturais...".
O programa REVIVE, sediado no Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas, que arrancou em 2008, e que responde à necessidade de melhorar o conhecimento sobre as espécies de vetores presentes no país, a sua distribuição e abundância, contribuindo para o esclarecimento do seu papel como agentes de transmissão de doença, assim como detetar atempadamente introduções de espécies invasoras com importância em Saúde Pública.
Desta forma, privilegiando a prevenção, em detrimento da resposta à emergência, a vigilância permite detetar atempadamente qualquer alteração na abundância, na diversidade e papel de vetor, levando as autoridades a definir medidas que contribuam para a proteção da Saúde Pública.
O REVIVE permite de forma contínua cumprir os seguintes objetivos:
  • Vigiar a atividade de artrópodes hematófagos, caracterizar as espécies e a ocorrência sazonal em locais previamente selecionados;
  • Identificar agentes patogénicos importantes em Saúde Pública transmitidos por estes Vetores;
  • Emitir alertas para a adequação das medidas de controlo, em função da densidade dos vetores e do nível de infeção.
Com estreita ligação internacional, o REVIVE contribui regularmente para a rede de vigilância de vetores a nível de toda a Europa (VBornet) e para o Programme on emerging and vector-borne diseases, criados pelo European Centre for Disease Prevention and Control (ECDC).
O INSA como entidade competente na vigilância, formação e disseminação de informação sobre este assunto, através do Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infeciosas (CEVDI), tem vindo a desenvolver estas atividades, ao longo dos anos, dirigidas especialmente aos Técnicos de Saúde Ambiental (que participam nas capturas em todo o país), a Médicos e outros profissionais de saúde.

Sobre o trabalho desenvolvido pelo REVIVE:
2012
  • REVIVE “Culicídeos - mosquitos”: como início em Maio, em função do período de atividade destes vetores, e que decorrem até Outubro, com a participação das ARS Alentejo, Algarve, Centro, Norte e IA Saúde Madeira. O financiamento é garantido pelas regiões (campo) e pelo INSA (laboratório). A ARS LVT, participou em 2008 e 2011, não estando a participar em 2012.
  • REVIVE “Ixodídeos - carraças”: em curso desde Janeiro com a participação da ARS Alentejo, Algarve, Lisboa e Vale do Tejo e Norte. A participação é financiada pelas ARSs (campo e laboratório).
Desde 2011, a vigilância de Vetores no REVIVE foi alargada ao estudo de carraças, sendo atualmente também efetuada a vigilância de outros artrópodes hematófagos (as carraças) e pesquisados os agentes patogénicos mais importantes em Saúde Pública transmitidos por estes vetores, nomeadamente rickettsias (agentes da febre escaro-nodular e linfangite) e borrélias (agentes da borreliose de Lyme).
A deteção dos agentes nas carraças, realizada atempadamente, permite ao clínico o estabelecimento ou exclusão precoce de um diagnóstico, através da componente epidemiológica.


A inclusão do estudo das carraças no REVIVE tem sido essencial para a melhor comunicação entre os clínicos e o laboratório, com o benefício evidente para o doente., sendo a análise das carraças colhidas em humanos essencial para o esclarecimento do potencial patogénico de alguns agentes infeciosos que por só terem isolados de carraças, até ao momento, se desconhece a sua ação patogénica para o Homem.

Procedimento de Colheita de Amostras de Mosquitos Adultos:
Durante o período em que tive a oportunidade de estagiar na unidade de Saúde Publica colaborei numa colheita de mosquitos adultos esta foirealizada num jardim público, num local abrigado do vento, para efectuar a colheita foi utilizada uma armadilha CDC (Centers for Disease Control and Prevention), esta armadilha contém uma fonte de luz que atrai os mosquitos para um local onde estes são aspirados passando de imediato para o recipiente coletor. Por sua vez o gelo seco também vai atrair os mosquitos mas devido à libertação de dióxido de carbono, já que estes localizam os potenciais hospedeiros através do dióxido de carbono expirado durante a respiração.

Material utilizado na Colheita:
- Armadilha tipo CDC (Center for Disease Control) e recipiente coletor;
- Bateria carregada;
- Gelo seco e saco;
- Termo-higrómetro.

Método de Colheita:
1- Produzir o gelo seco necessário à colheita;
2- Colocar a armadilha antes do pôr-do-sol com o recipiente coletor e ligar à bateria;
3- Verificar se as portas metálicas basculantes da armadilha se encontram na posição fechada e testar várias vezes se abrem e voltam à posição inicial;
4- Colocar o Termo-higrómetro. Anotar os dados importantes no boletim de colheita (tipo de habitat, proximidade de água, entre outros);
5- Colocar o recipiente de gelo seco na proximidade da armadilha (se for um saco de plástico deve-se fazer um furo);
6- Na manhã do dia seguinte, após o nascer do sol, recolher com cuidado o recipiente coletor, evitando fugas dos mosquitos capturados. Registar os dados relativos à temperatura e humidade relativa no boletim de colheita.

Expedição das Colheitas:
Para a expedição, as amostras foram bem acondicionados em recipientes estanques, sendo que estes foram posteriormente colocados numa caixa térmica em esferovite com um termoacumulador e enviados por correio juntamente com os boletins de colheita para o CEVDI (Centro de Estudos de Vetores e Doenças Infecciosas).

Fig 1- Fabrico do gelo seco

Fig 2- Gelo seco




Fig 3- Fixação do saco com gelo seco e da armadilha para mosquitos




A dengue é uma doença transmitida  através de vetores colocando em risco uma população de cerca de 2,5 a 3 bilhões de pessoas. A doença apresenta taxa de mortalidade de 10% para pacientes hospitalizados e de 30% para pacientes não tratados. A dengue é endémica de regiões tropicais e subtropicais abundantes em chuva, como o sudeste asiático, sul do Pacífico, África Oriental, Caribe e América Latina. Um estudo recente apontou que a incidência de dengue no mundo pode ser o triplo da estimada, chegando a 390 milhões de casos por ano. Esse mesmo estudo, da Organização Mundial da Saúde, aponta que a Ásia corresponde a 70% dos casos de dengue no mundo, sendo que a Índia sozinha engloba 34% das infeções. 14% dos casos estão nas Américas, principalmente no Brasil e México.
Segundo dados da Secretaria de Vigilância Sanitária, houve um aumento de 205% nos casos de dengue no período de Janeiro a Abril de 2013 comparados ao mesmo período de 2012. Entretanto, houve uma diminuição de 4% dos casos graves da doença em relação a 2012. O país registrou queda de 74% de 2011 a 2012 nos casos graves de dengue. Os óbitos registrados de Janeiro a Abril de 2013 aumentaram 5% com relação a 2012.


As tabelas abaixo resumem a incidência e número de casos de dengue no Brasil entre Janeiro a Abril de 2013, segundo dados do Ministério da Saúde, sendo que o Sudeste aparece como região com maior número de casos da doença:





Um dado interessante é que das 1623 amostras positivas para a dengue, 59,1% corresponderam ao sorotipo DEN-4, 34,8% ao DEN-1, 5,8% ao DEN-2 e 0,3% ao DEN-3. Isso representa que o sorotipo DEN4 (recentemente reintroduzido no país) é o mais prevalente na população. Sendo a dengue uma das doença transmitida através de vectores considero que o programa REVIVE de grande importância na prevenção e vigilância da saúde pública.

Muito obrigado...!! :)

Fontes bibliográficas:
- Decreto-Lei nº 117/1995, de 30 de Maio:
   http://www.dre.pt/pdf1s/1995/05/125A00/33783380.pdf
- Programa Regional de Vigilância de Vetores 2010-2015:
http://www.arsalentejo.minsaude.pt/saudepublica/ProgramaREVIVE
- Relatório REVIVE - Culicídeos:
http://www.arsalentejo.minsaude.pt/saudepublica/ProgramaREVIVE
- Informação mensal dos casos de febre de dengue na Ilha da Madeira (Setembro de 2013) emitida pela Direção Geral de Saúde:
- Climate change and vector-borne diseases: a regional analysis. World Health Organization, 2000:
http://www.who.int/bulletin/archives/78(9)1136.pdf
-Cria saúde:






Sem comentários:

Enviar um comentário