sexta-feira, 30 de maio de 2014

Visita guiada à Central Termoelétrica de Sines

Mais uma vez muito bem-vindos a este espaço nesta publicação vou falar-vos de uma visita guiada que em muito me enriqueceu, esta realizou-se na central termoelétrica de Sines.

O consumo energético a nível mundial aumenta anualmente a uma taxa aproximadamente de 1.6 %, este valor poderá subir nos próximos anos se se mantiverem as propensões atuais de produção. 

As centrais que utilizam combustíveis fósseis e nuclear são denominadas centrais termoelétricas, estas têm um papel de enorme relevância na produção de energia elétrica, isto deve-se ao facto de estas terem como base a aplicação de combustíveis fósseis como combustível essencial. Nos dias que correm, a utilização desses combustíveis atinge cerca de três quartos do consumo energético mundial.

No decorrer do presente estágio para grande alegria minha foi-me possível conhecer, através de uma visita guiada, a Central Termoeléctrica de Sines.
Esta localiza-se na costa alentejana, cerca de 8 km a sudeste da cidade de Sines, junto à praia de São Torpes.
A central foi construída no início de 1979 e teve a sua conclusão em meados de 1989. No entanto, o seu primeiro grupo gerador entrou em funcionamento em 1985 e os restantes em 1986, 1987 e 1989. A decisão em construir a central teve por base a estratégia da EDP em diversificar a fonte primária energética do país devido à crise petrolífera existente entre 1973 e 1979, que provocou um aumento considerável dos preços do petróleo e dos seus derivados.

Processo produtivo:
A produção de energia através das centrais termoelétricas a carvão como é o caso da central termoelétrica de Sines, é constituída inicialmente pela combustão do carvão, que transmuta a água de estado líquido a gasoso. Este vapor de água superaquecido circula através de uma rede até às turbinas. As turbinas acionam o gerador que transmuta a energia mecânica em energia elétrica. Esta energia gerada é transportada para um sistema de distribuição onde é levada até à população pelas linhas de alta tensão. O vapor ao sair da turbina é encaminhado ao condensador transformando o vapor em líquido em seguida é levado até à torre de arrefecimento. A água arrefecida, juntamente com a água que é adicionada na torre de arrefecimento, é transportada de novo ao condensador que por sua vez converte a água fria em vapor. O vapor condensado é conduzido a caldeira dando início a um novo ciclo.

Antes da devolução da água ao Oceano Atlântico de onde esta é inicialmente proveniente, e aproveitando o elevado caudal e o desnível existente entre o condensador e o local da rejeição, foi instalado em cada grupo uma turbina de recuperação (mini-hídrica) possibilitando recuperar parte da energia necessária à captação da água para a condensação do vapor.

Figura nº 1- Central Termoelétrica de Sines

A central é constituída por quatro grupos de geradores idênticos possuindo uma autonomia independente capaz de produzir uma potência elétrica unitária de 314 MW.
Cada um dos grupos de geradores que compõe a central inclui um sistema de vapor de circulação natural, Grupos Geradores de Vapor (GGV), um grupo turboalternador (GTA) e um transformador principal. 

O fornecimento do carvão que abastece a central provem maioritariamente da África do Sul, e América do Sul, o transporte é efetuado por via marítima e a descarga dá-se no porto de Sines até ao parque de carvão da EDP que tem uma capacidade de armazenamento de 1,5 milhões de toneladas. O transporte até ao parque de carvão (Figura nº 2) é realizado por meio de telas transportadoras e de torres de transferência.

No parque de carvão da Central Termoelétrica de Sines, são alinhadas quatro pilhas ativas de 150 000 toneladas cada e uma pilha passiva de 700 000 toneladas.

Figura nº 2 – Imagem do parque de carvão da central termoelétrica de Sines


A capacidade total de carvão no parque da central termoelétrica de Sines, permite à central uma autonomia de funcionamento normal de cerca de cinco meses.

Já nos silos, o carvão é descarregado a um alimentador, que alimenta o moinho onde é efetuada a moagem. De seguida, o carvão já pulverizado e transportado a uma caldeira onde é queimado afiançando uma combustão total na câmara de combustão.

A figura nº 3 representa o esquema simplificado do funcionamento da central termoelétrica de Sines.

                                         Figura nº 3 – Esquema do funcionamento da central termoelétrica de Sines 

Reflexão:
Um dos aspetos que mais me fascinou ao longo desta visita foi a dimensão do espaço abrangido pela central termoeléctrica de Sines. Eu estava mentalizado que ia encontrar algo grande, mas a grandiosidade daquilo com que me deparei foi extraordinário. Para que tenham uma ideia das dimensões a que me refiro, a central termoelétrica de Sines dispõe de um aterro com uma área de aproximadamente de 11 hectares, com capacidade para 1 253 000 toneladas de resíduos não perigosos.
Outra grande surpresa foi a forma como o abastecimento de carvão é feito a partir do cais mineraleiro do porto de Sines, por tapete transportador coberto até ao parque de carvão, cuja capacidade de armazenagem é de 1.5 milhões de toneladas. Uma vez no parque de carvão, através de máquinas de retoma e de um agrupado de telas transportadoras, o carvão é conduzido para os silos metálicos que se encontram situados junto ao gerador de vapor. 

Nos silos, o carvão é descarregado a um alimentador, que alimenta o moinho onde é efetuada a moagem. Depois o carvão já pulverizado é transportado a uma caldeira onde é queimado, garantindo uma combustão completa na respetiva câmara de combustão.
Os gases e alguns resíduos sólidos resultantes deste processo são libertados na atmosfera através de duas chaminés com 225 m de altura, apenas superadas, pela refinaria vizinha com uns impressionantes 250 m tal como nos foi dito. A altura elevada das chaminés garante, de certa forma, a dispersão atmosférica de partículas.

Outra das boas surpresas que esta visita nos proporcionou foi o fato de ficar a saber que, as cinzas volantes de carvão captadas nos precipitadores electrostáticos são comercializadas para a indústria do cimento e do betão, sempre que as suas características físico-químicas estejam em conformidade com a normalização existente.

Mas não são apenas as cinzas resultantes que são aproveitadas e colocadas no mercado para aproveitamento noutras indústrias, o mesmo também acontece com o gesso proveniente da unidade de dessulfuração, apenas acerca de 5 a 15% de todo o gesso produzido não é reaproveitado e é depositado em aterro para o efeito. O restante é encaminhado para a indústria química, para produção de hemidrato, ou para a indústria transformadora, como a produção de placas de gesso. Este aterro destinado à deposição de gesso ocupa uma área de cerca de 5,5 hectares e possui uma capacidade instalada de cerca de 30 a 90 t/dia.

Uma das salas que mais me chamou a atenção, talvez por parecer saída de um qualquer filme de ficção cientifica, foi a sala onde está instalado o sistema de monitorização interna, em contínuo, que controla as emissões atmosféricas para o meio ambiente, assim como o total funcionamento da central.
E por fim não esquecendo a segurança no trabalho, não posso deixar de referir o grande cuidado que é tido nessa área, podemos observar dispostos em lugares estratégicos na central a presença de disfibrilhadores, mascaras com botijas de gás entre outros dispositivos que estamos mais habituados a encontrar na nossa área de atuação.
Pelo que questionamos, todos têm formação para a colocação e uso das mascaras de gás apesar das mesmas trazerem instruções de utilização. Quanto aos disfibrilhadores foi-nos dito que apenas alguns dos trabalhadores tendo em conta a sua presença temporal, uma vez que a central apresenta funcionamento por turnos têm formação de utilização dos mesmos. 

Quero deixar aqui a informação de que a central termoelétrica de Sines se encontra disponível para visitas guiadas às escolas, e seria seguramente bastante interessante de futuro as turmas do nosso curso poderem visitar este espaço.
Aos meus colegas que realizarão de futuro os estágios fica aqui o conselho de o procurarem realizar na central termoelétrica de Sines.

Espero que esta publicação tenha sido útil, e mais uma vez um muito obrigado por visitarem este espaço J .

Bibliografia:

1- AAC, Agri-pro Ambiente, Consultores S.A. (2004). Estudo de impacto ambiental do Projeto de Dessulfuração da Central Termoelétrica de Sines, EDP, Vol. I- Resumo Não Técnico, pp.8. 

2- AAC, Agri-pro Ambiente, Consultores S.A. (2008). Estudo do Impacto Ambiental dos Projetos de Conversão e de Loteamento da Refinaria de Sines, Galp Energia, Vol. 2, Cap. 4.

3-  Adriano, D.C., Page, A.L., Elseewi, A.A., Chang, A.C., e Straughan, I. (1980). Utilization and disposal of fly ash and other coal residues in terrestrial ecosystems: a review. J. Environm. Qual., Vol. 9:03, pp. 333 – 334.

4- Alloway, B.J. e Ayres, D.C., (1993). Chemical Principles of Environmental Pollution. Blackie Academic & Professional, London; New York, ISBN 0751400130, pp. 291.

5- Carlon, C. (Ed.) (2007). Derivation methods of soil screening values in Europe, A review and evaluation of national procedures towards harmonization, European Commission, Joint Research Centre, Ispra, EUR 22805-EN, pp. 306.

6- CCDR (2004), Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Alentejo. Projeto Sinesbioar - Relatório Técnico Intercalar.

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