sexta-feira, 25 de abril de 2014

Policlorobifenilos (PCB´s) ...

Nesta publicação vamos abordar o tema dos Policlorobifenilos (PCB´s), que ao longo de vários anos têm levantado várias questões a nível ambiental e consequentes malefícios para a saúde humana.  

Os PCB fazem parte de uma classe de compostos organoclorados provenientes do acréscimo de átomos de cloro ao bifenilo, composto esse formado por anéis aromáticos interligados por uma ligação simples carbono-carbono 1. Como pode ser observado mais a baixo na figura nº 1, os PCB´s mostram diversas substituições possíveis dos átomos de cloro, que variam de 1 a 10 átomos, e assim originando 709 moléculas distintas.

                                                    Figura nº 1- Estrutura Molecular dos PCB´s

As propriedades físico-químicas dos PCB´s influenciam tanto a sua dinâmica nos compartimentos ambientais, tal como a sua utilização pela indústria como pode ser observado na tabela numero 1.


 Tabela nº 1- Propriedades físico-químicas dos PCB´s

Pelo facto de serem praticamente incombustíveis, ostentarem baixa pressão de vapor (temperatura ambiente), alta estabilidade térmica e química, serem resistentes a bases e ácidos, os PCB`s tem sido utilizados de diversas formas, tais como, fluidos dielétricos em transformadores e condensadores, tintas, lubrificantes hidráulicos, entre outros. Existem na forma de sólidos (gorduras/resinas) como de líquidos (óleos), não apresentam cheiro ou sabor, são pouco solúveis em água, e a solubilidade diminui com o aumento do número de átomos de cloro na molécula, estes são ainda muito solúveis em solventes orgânicos, gorduras animais e óleos vegetais.

PCB`s e a sua História:
a) No decorrer da década de 20, o recurso aos equipamentos elétricos generalizou-se por todo o mundo, notadamente nos EUA, com a grande utilização de transformadores elétricos. Estes tipos de equipamentos eram até então isolados unicamente por óleos de origem mineral, alcançados pela destilação do petróleo, e como tal, de natureza combustível. Durante esta época, ocorreram diversos casos de incêndio, geralmente provocados por arco elétrico nos transformadores, que despoletavam a combustão do líquido isolante e a consequente propagação do fogo.

b) Durante a década de 30 a regulamentação pública nos EUA relativa as instalações elétricas, impôs que os transformadores em subestações no interior dos prédios habitacionais  ou naqueles onde houvesse o risco de incêndio, fossem fabricados com líquido isolante não inflamável e não propagador de chama. Desde então, foram desenvolvidas várias formulas de óleos isolantes para transformadores baseadas nas PCB´s, devido à sua característica de não flamabilidade.

As formulas baseadas na utilização de PCB`s oferecem boas características isolantes, grande durabilidade e enorme eficácia quanto à não propagação de chama. Nas condições de falha em transformadores, a mistura é praticamente não inflamável, desta forma, a sua utilização como líquido isolante de segurança foi amplamente difundida por todo o mundo.

c) Nos anos 60, a Organização das Nações Unidas (ONU) criou um programa de monitorização global identificando alguns poluentes considerados perigosos.
Este estudo demonstrou que os PCB`s estavam globalmente dispersos no meio ambiente terrestre, e passaram a pertencer ao grupo dos poluentes referenciados.

d) No ano de 1968, na cidade de Yusho, capital da ilha de Kyusho, no Japão, ocorreu o sobreaquecimento de um dos equipamentos utilizados na produção de alimentos. O líquido refrigerante utilizado de modo a remediar a situação era à base de PCB`s e foi acidentalmente misturado ao óleo comestível. A população de Yusho passou a manifestar um conjunto de sintomas patológicos, designados então de "Mal de Yusho", que incluíam cloroacne, hiperqueratose, bronquite, edema e entorpecimento dos membros, entre outros. Estas ocorrências foram atribuídas à ingestão dos PCBs misturadas ao óleo destinado à alimentação.

e) Na mesma época do ocorrido na cidade de Yusho, numa zona habitacional construída sobre um antigo aterro químico já encerrado, pertencente à Westinghouse Electric corporation, designado de Love Canal, no estado de Nova Iorque, EUA, foram detectados PCB`s no solo e lençol freático. Os mesmos sintomas foram observados entre a população exposta.

f) No ano de 1971 a Monsanto, maior produtor mundial de compostos químicos à base de PCB`s, limitou as utilizações dos seus produtos, devido à repercussão dos acidentes.

g) No ano de 1975 a Agência de Proteção Ambiental dos Estados Unidos (USEPA), enviou ao congresso Norte Americano o projeto Lei de Controle de Substâncias Tóxicas (TSCA) onde estão identificados os PCB`s.

h) Estudos posteriores aos acidentes de Yusho e Love Canal comprovaram que vários dos sintomas observados em ambos os episódios eram, na realidade, devidos às “bibenzo-dioxinas policloraras” e aos “dibenzo-furanos policlorados”. Estas substâncias são formadas a quando da oxidação parcial dos PCB`s em condições de carência de Oxigênio ou energia. A pesar destas constatações, os PCB`s não foram retiradas do TSCA em função dos seus vários efeitos nocivos ao meio ambiente e à saúde. Embora as sucessivas alterações introduzidas na legislação norte americana, os mecanismos relativos à proteção humana e ambiental permanecem os mesmos.

Identificação dos Riscos
A avaliação dos efeitos danosos sobre a saúde humana originados pelos PCB`s deve ter em consideração o modo de exposição, a duração da exposição e a composição da mistura de PCB`s. Tais variáveis influenciam nos efeitos e nos grupos sujeitos à exposição por PCB`s.
 A estabilidade química e a ampla dispersão de produtos contendo PCB`s, principalmente na primeira metade do século XIX, levou a que tais compostos fossem encontrados em grandes concentrações nos mais distintos compartimentos ambientais. Este fato devesse à descarga  destes compostos no meio ambiente, resultado das atividades humanas. A exposição de organismos aos PCB`s ocorre através da ingestão e contato direto com a água, alimentos e sedimentos contaminados e também pela inalação.

Os PCB`s com poucos átomos de cloro e baixo valor Kow (fator de hidrofobicidade) são rapidamente expelidos, enquanto que os PCB`s com grande quantidade de átomos de cloro na molécula são expelidos de forma mais lenta.
 Uma das consequências da exposição aos PCB`s é o cloroacne, uma escamação dolorosa que afeta a pele, semelhante ao acne. Essas substâncias quando dentro do organismo dos seres vivos são transportados pela corrente sanguínea até aos músculos e fígado, devido ao fato de serem extremamente lipofílicos, tendem a acumular-se nos tecidos adiposos viscerais onde, estimulando as enzimas hepáticas, provocam anomalia na função do fígado. Além do cloroacne, são observados os seguintes efeitos nos seres humanos, são estes, hiperpigmentação, problemas oculares, irregularidade menstrual, elevação do índice de mortalidade por cancro do fígado e vesícula biliar, dores abdominais, tosse crónica, dor de cabeça, fadiga e nascimentos prematuros com deformações.

Estudos toxicológicos efetuados em cobaias têm evidenciado que a contaminação por PCB`s pode originar variações nas funções reprodutivas dos organismos, como na maturação sexual e efeitos teratogénicos. Estes efeitos permitem aos PCB`s propagar-se ao longo de toda a cadeia trófica, através da bioacumulação. É de salientar que os efeitos tóxicos dos PCB`s variam com o modo de exposição, idade, sexo e com a área de exposição do corpo onde há a concentração dos PCB´s. 

Possíveis Fontes Poluidoras

Os bifenilos policlorados (PBC`s) podem chegar ao meio ambiente através de derrames acidentais aquando do seu transporte ou utilização, ou ainda de incêndios de produtos que contenham PCB`s.
Outra das fontes poluidoras são os depósitos de resíduos perigosos, eliminação ilegal ou inadequada de resíduos. Este perigo ainda está presente em descargas de antigos transformadores elétricos contendo PCB`s, assim como na incineração de resíduos urbanos. Outra fonte adicional de PCB`s é a volatilização dos aterros contendo transformadores.

Destino e Transporte dos PCB`s
O destino e comportamento dos PCB`s no meio ambiente são influenciados pelas suas caraterísticas físico-químicas, nomeadamente a sua pressão de vapor, solubilidade em água e restetiva lipofilicidade. Os PCB`s menos clorados possuem pressão de vapor e solubilidade em água superior aos mais clorados, os quais são mais lipofílicos. Estas diferenças desempenham um grande efeito na persistência, e respetivo coeficiente de partição entre os diferentes compartimentos ambientais.
Devido às caraterísticas atrás mencionadas, os PCB`s ostentam alta resistência à degradação. Ao serem libertados no meio ambiente, tendem a acumular-se nos organismos.
Devido à sua alta estabilidade química, oferecem grande resistência à degradação e podem gerar compostos secundários extremamente tóxicos como dibenzodioxinas e dibenzofuranos por oxidação parcial.

A introdução dos PCB`s na cadeia alimentar ocorre devido à sua capacidade de bioacumulação, processo pelo qual ocorre a acumulação do contaminante proveniente da absorção e eliminação simultânea, e de biomagnificação, consequente da acumulação da concentração do contaminante nos tecidos dos organismos vivos na passagem de cada nível trófico da cadeia alimentar.

 A lipofilicidade dos PCB`s, a estrutura e dinâmica da cadeia alimentar, onde a concentração do contaminante aumenta com a cadeia trófica, determinam o seu potencial de biomagnificação. Desta forma, o ser humano está sujeito a uma grande exposição aos contaminantes, pelo fato de ocupar o último nível trófico da cadeia alimentar.
 Visto o que foi exposto anteriormente, é possível traçar o percurso dos PCB`s no  meio ambiente, conforme mostra a figura nº 2. 

Figura nº 2- Percurso dos PCB`s no  meio ambiente

Reações

No que toca aos processos biológicos, os PCB`s em ambiente aquático podem sofrer a biodegradação pela ação do metabolismo dos microrganismos, o que pode suceder em condições aeróbias ou anaeróbias, em qualquer uma das formas trata-se de um processo lento.
Outra reação que pode ser relacionada aos bifenilos é a degradação intencional, este método é utilizado para eliminação de PCB`s através da incineração a grandes temperaturas. Contudo, em consequência deste processo, compostos secundários altamente tóxicos, tais como o PCDF (policlorodibenzofurano) e PCDD (policlorodibenzodioxinas), podem ser gerados pela sua combustão inadequada.


Formas de “Remediação” dos PCB`s no Ambiente

A remediação destes composto pode acontecer através da aplicação de técnicas de escavação e remoção, seguidas de incineração. Outras técnicas são a lavagem do solo ou  a respetiva destruição no local.
A técnica mais apropriada é a biorremediação onde, são empregadas algumas espécies de bactérias ou fungos capazes de utilizar o bifenilo como fonte de carbono e energia e desta forma, degradar o PCB. As espécies de bactérias usadas são, as Achromobacter, as Acinetobacter, as Alcaligenes eutrophus e a espécie de fungo utilizada são as Phanerochaete chrysosporium.

REFLEXÃO

Este é um problema atual e identificado em diversos locais, ainda que o cidadão comum não esteja ciente, estes poluentes afetam de forma negativa a nossa saúde, podendo advir deles consequências bastante graves.

De forma a combater os focos de poluição causados por estes agentes, devem ser tomadas medidas que possibilitem combater os impactos ambientais dai resultantes.

Como aluno finalista da licenciatura em Saúde Ambiental, as disciplinas de Bioquímica, Microbiologia, Toxicologia e Química permitiram-me compreender e estudar esta temática. Através das disciplinas mencionadas adquiri as bases sólidas que me permitiram o estudo e a compressão daquilo que são os PCB`s, enquanto estrutura e complexidade de movimentos entre os diferentes meios. Assim como as medidas e cuidados que devem ser tidos em conta na procura da sua eliminação do ambiente.

Para uma mais breve compreensão relativamente a esta temática deixo-vos com um pequeno vídeo explicativo de um problema causado pelos PCB`s no Rio Hudson situado em Manhattan USA, o vídeo foi elaborado pelo Dr. Bill Chameides, “Dr. Chameides is dean of Duke's Nicholas School of the Environment and a member of the National Academy of Sciences”.

Espero que tenham gostado e até à próxima publicação…
Muito Obrigado J 




Bibliografia:
1-Brown, J. Determination of PCB metabolic, excretion, and accumulation rates for use as indicators of biological response and relative risk. Environ. Sci. Technol. 28(13):2295–2305, Setembro 1994;

2- Agency for Toxic Substances and Disease Registry (ATSDR): Toxicological profile for polychlorinated biphenyls (PCBs). Atlanta, GA: U.S. Department of Health and Human Services, Janeiro 2000;

3- UNEP Chemicals: PCB transformers and capacitors: From management to reclassification and final disposal, Setembro 2002;

4- International Agency for Research on Cancer (IARC): IARC Monographs on the Evaluation of Carcinogenic Risks to Humans, Supplement 7, Overall Evaluations of Carcinogenicity. An Updating of IARC Monographs Volumes1-42, Junho 1987;


5- Agência Portuguesa do Ambiente (APA): Guia de Boas Práticas – Gestão de Equipamentos com PCB, Março de 2010;

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