Mais uma vez muito bem
vindos a este espaço, nesta publicação vamos falar de riscos elétricos.
Tal como é possível verificar noutras formas de energia, a eletricidade
apresenta riscos o que podem originar acidentes cujas consequências podem
resultar em danos materiais, humanos ou ambos.
Esses
riscos colocam-se ao nível do utilizador comum e, principalmente, ao nível dos
profissionais que trabalham com a electricidade.
-a
nível humano (consequências físicas que, em última instância, podem culminar na
morte);
- a
nível material (destruição de equipamentos, por exemplo).
Danos
humanos resultam da passagem de corrente elétrica pelo corpo.
Os
principais efeitos fisiológicos da
passagem da corrente elétrica pelo corpo humano, são os seguintes:
-
Perceção;
-
Tetanização;
-
Paragem respiratória;
-
Queimaduras;
-
Fibrilação ventricular.
Figura
nº 1- Ilustração de choque elétrico durante a ralização de trabalho
|
Perceção:
O
limiar de perceção carateriza o valor mínimo da corrente sentida por uma pessoa,
e que apenas carateriza uma sensação de formigueiro.
Tetanização:
É um
fenómeno decorrente da contração muscular produzida por um impulso elétrico. O
limite de “não largar” define-se como o valor máximo da corrente que um
indivíduo pode suportar e largar um condutor ativo (condutor afeto à passagem
da corrente elétrica).
Paragem respiratória:
Correntes
superiores ao limite de “largar” podem provocar nas vítimas uma paragem
respiratória. A passagem da corrente leva à contração dos músculos ligados à
respiração e/ou aos centros nervosos que os comandam, produzindo asfixia que, permanecendo
a passagem da corrente, levam à perda de consciência e morte por sufocamento.
Queimaduras:
Sendo
a passagem da corrente elétrica acompanhada por desenvolvimento de calor, por
efeito de Joule, uma das consequências mais frequentes dos acidentes elétricos
são as queimaduras.
Estas
queimaduras revelam-se mais intensas nas zonas de entrada e saída da corrente
porque:
• a
pele, quando comparada com os tecidos internos, apresenta uma elevada resistência
elétrica;
• à
resistência da pele soma-se a resistência de contacto entre a pele e as partes
sob tensão;
•
nos pontos de entrada e saída da corrente, sobretudo se as áreas de contacto
forem pequenas, a densidade de corrente é maior.
Existem
ainda as queimaduras provocadas pela libertação de calor por arco elétrico,
como acontece na soldadura.
Estas
queimaduras que assumem graves proporções nos acidentes elétricos com alta
tensão, são as de mais difícil tratamento, podendo provocar a morte por insuficiência
renal.
Fibrilação ventricular
Este
fenómeno fisiológico é o mais grave que pode ocorrer devido à passagem da
corrente elétrica. Deve-se ao facto de aos impulsos elétricos naturais que
provocam a contração muscular do músculo cardíaco, se sobrepor uma corrente
externa que faz com que as fibras ventriculares passem a contrair-se de modo
descontrolado.
Danos
materiais são frequentemente resultantes de incêndios e/ou explosões provocados
por anomalias na instalação.
Como tal irei referir os
riscos que um trabalhador está sujeito ao trabalhar com material elétrico, as
suas causas e consequências, assim como propor algumas medidas essenciais de
proteção e segurança.
Figura nº 2- Sinal de Perigo de electrocussão |
Conceitos Gerais:
No que respeita a riscos
elétricos, devemos ter presente dois conceitos distintos, são estes:
Eletrocussão - um
choque eléctrico que origina um acidente mortal.
Eletrização - um
choque elétrico que não causa um acidente mortal, mas que pode originar outro
tipo de acidentes, com consequências que podem ser mais ou menos graves.
A distância que
vai entre a eletrocussão e eletrização é determinado por diferentes fatores.
Assim, os efeitos da corrente elétrica variam de acordo com:
- A capacidade de
reação da pessoa;
- A intensidade;
- A frequência;
- O percurso
através do corpo;
- O tempo de
passagem.
Desta forma, em
baixa tensão, a morte está acima de tudo relacionada pela ação local da
quantidade de eletricidade que atinge o coração. Em situações de alta tensão, a
morte surge devido à extensão das queimaduras.
Como tal, a perigosidade da corrente reduz com o aumento da frequência. As frequências industriais (50/60hz) são as mais perigosas. Acima dos 10.000hz, os principais perigos são as queimaduras, no caso das correntes serem muito intensas.
Causas e respetivas consequências dos
riscos elétricos
Como foi referido
em publicações anteriores, o Regulamento de Segurança de Instalações de
Utilização de Energia Eléctrica especifica duas categorias de riscos eléctricos
para as pessoas, são estas:
Diretas:
- Contato
acidental com uma peça do cabo condutor sob tensão;
- Defeito de
isolamento da instalação elétrica.
Indiretas:
- Falta inesperada
de electricidade;
- Ligação brusca à
rede de alimentação.
Figura nº 3- Risco elétrico por
contacto direto e indireto
|
Enumerando
situações mais específicas, podemos identificar as causas mais frequentes de
acidentes elétricos com condutores e ligações elétricas, como por exemplo:
- Utilizar fita
adesiva para fazer isolamentos;
- Utilizar
equipamentos com cabos de ligação deteriorados;
- Puxar pelo cabo
de alimentação;
- Mover
equipamentos ou aparelhos com cabos em tensão;
- Cabos
arrastados, dobrados, entalados, queimados, etc..
No que toca aos
acidentes domésticos envolvendo eletricidade estes devem-se na maior parte das
vezes a:
- Sobrecarga das
instalações;
- Trabalhos sob
tensão;
- Restabelecimento
da corrente;
- Falta de
corrente.
Respetivamente à
protecção das pessoas deve ser tido em conta o limiar do perigo para o
organismo humano. Esse perigo altera consoante a intensidade da corrente:
quanto maior, maiores efeitos fisiológicos terá para o ser humano.
Geralmente, a
corrente circula das mãos para os pés ou de uma mão para a outra, situação esta
que confere maior perigo.
O acidente é mais
grave sempre que a trajetória da corrente atravessa o coração, sendo que o
percurso mão direita-pé esquerdo é o que apresenta mais elevado risco de
fibrilação ventricular.
O estado
fisiológico e patológico do individuo, influencia de forma direta à
recetividade da corrente elétrica por parte deste. Pois pode depender dos
seguintes fatores:
- da fadiga;
- da saúde;
- da sede;
- da idade.
A intensidade da
corrente que atravessará o corpo humano depende da resistência que este oferece
à passagem da corrente elétrica. Essa resistência resulta da soma dos seguintes
fatores:
- Resistência do
ponto de contacto;
- Resistência dos
tecidos internos que a corrente atravessa;
- Resistência da
zona de saída da corrente.
As medidas de proteção ativas são as mais
adequadas no caso de se querer atuar contra a possibilidade de contatos
diretos, tais como:
- Afastamento das
partes ativas;
- Recobrimento das
partes ativas da instalação;
- Interposição de
obstáculos.
As medidas de proteção passivas têm como
objetivo proteger os indivíduos de contatos indiretos, tais como:
- Separação dos
circuitos;
- Emprego de tensão reduzida de segurança.
Podemos ainda
referir algumas medidas de proteção
gerais tais como:
- Inacessibilidade
simultânea de massas e elementos condutores estranhos à instalação;
- Estabelecimento
de ligações equipotenciais;
- Isolamento dos
elementos condutores estranhos à instalação.
Desta forma, os
trabalhos em instalações elétricas devem:
- ter, por regra,
a instalação fora de tensão;
- ser devidamente
identificados e sinalizados;
- ser realizados
por técnicos qualificados.
- ter em conta as
5 regras de ouro referidas em anteriores publicações.
Reflexão:
Ao ter
recentemente conhecimento de que um trabalhador ao serviço do grupo EDP tinha
sofrido em Bragança um acidente de trabalho mortal numa subestação, decidi abordar
a problemática dos riscos elétricos em contexto de trabalho, bem como as
consequências a nível material mas principalmente sob o ponto de vista humano e
as respetivas medidas e ações de segurança e proteção desses mesmos riscos.
Ao longo dos últimos
3 meses ao qual realizei o estágio no departamento de segurança no trabalho da
EDP Distribuição, foi-nos relatado muitos dos acidentes que decorreram ao longo
dos anos, infelizmente alguns com vítimas mortais.
Em alguns desses
mesmos acidentes, verificou-se a perda de vida de mais do que um único
trabalhador. Por motivos óbvios não vou descrever as circunstâncias em que os
mesmos aconteceram, mas o fato de termos falado deles e discutido os fatores que
culminaram nos desfechos fatídicos. Estes diálogos forneceu-nos a bagagem que
nos permite analisar e identificar essas mesmas circunstâncias, e desta forma
trabalhar de modo a prevenir que os mesmos não aconteçam no futuro.
Mas nem todos os
acidentes que tivemos conhecimento resultaram em perda de vida, em três situações
específicas tivemos a oportunidade de discutir com os mesmos trabalhadores que
haviam sofrido acidente as causas que levaram à ocorrência do mesmo. Um dos
acidentes deveu-se a explosão e consequente arco elétrico, outro resultou de queda
em altura, e por fim aquele que mais controvérsia gerou deveu-se à tensão de
passo, e digo que foi no mínimo controverso pois o trabalhador não apresentou mazelas
físicas da saída da corrente do seu corpo, este fato suscitou uma interessante conversa
com várias teorias validas de como o mesmo poderia ter ocorrido.
Quero terminar a
reflexão a este tema referindo algo que foi dito num dos encontros de segurança
em que tive a oportunidade de participar, é um facto que a grande maioria dos acidentes ocorrem em
trabalhos devidamente planeados, e que apresentam rotina para os trabalhadores,
estes fatores levam a que os trabalhadores talvez por excesso de confiança
cometam erros que colocam a sua vida em causa.
Faz parte do nosso
trabalho como técnicos de segurança, lembrar diariamente que o perigo é real e
está presente, como tal nunca devem ser corridos riscos.
Os procedimentos
devem ser seguidos escrupulosamente, assim como a utilização dos equipamentos
de segurança, pois estes ditam a linha que separa a vida do fim dela.
Espero que esta
publicação vos tenha sido útil, alguma questão que possam ter agora ou de
futuro podem coloca-la neste espaço e tudo farei para responder.
Um muito obrigado…. :)
Bibliografia:
1- Palencar,
M. Risk Communication and community right to know: Public Relations to inform,
Janeiro 2008;
2- Nunes,
F. Manual Técnico: Segurança e Higiene do Trabalho, Setembro 2007;
3- Sargaço,
J. Relatório Final de Estágio – Trabalhos em Tensão, Faculdade de Engenharia da
Universidade do Porto, Junho 2007;
4- EDP
– Manual de Segurança – Prevenção do Risco Elétrico, Outubro 2002;
5- EDP– Regulamento de Segurança para a execução de trabalhos para a EDP, Dezembro
2012;
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