sexta-feira, 6 de junho de 2014

Riscos Elétricos

Mais uma vez muito bem vindos a este espaço, nesta publicação vamos falar de riscos elétricos.
Tal como é possível verificar noutras formas de energia, a eletricidade apresenta riscos o que podem originar acidentes cujas consequências podem resultar em danos materiais, humanos ou ambos.

Esses riscos colocam-se ao nível do utilizador comum e, principalmente, ao nível dos profissionais que trabalham com a electricidade.
-a nível humano (consequências físicas que, em última instância, podem culminar na morte);
- a nível material (destruição de equipamentos, por exemplo).
Danos humanos resultam da passagem de corrente elétrica pelo corpo. 

Os principais efeitos fisiológicos da passagem da corrente elétrica pelo corpo humano, são os seguintes:

- Perceção;
- Tetanização;
- Paragem respiratória;
- Queimaduras;
- Fibrilação ventricular.

Figura nº 1- Ilustração de choque elétrico durante a ralização de trabalho


Perceção:
O limiar de perceção carateriza o valor mínimo da corrente sentida por uma pessoa, e que apenas carateriza uma sensação de formigueiro.

Tetanização:
É um fenómeno decorrente da contração muscular produzida por um impulso elétrico. O limite de “não largar” define-se como o valor máximo da corrente que um indivíduo pode suportar e largar um condutor ativo (condutor afeto à passagem da corrente elétrica).

Paragem respiratória:
Correntes superiores ao limite de “largar” podem provocar nas vítimas uma paragem respiratória. A passagem da corrente leva à contração dos músculos ligados à respiração e/ou aos centros nervosos que os comandam, produzindo asfixia que, permanecendo a passagem da corrente, levam à perda de consciência e morte por sufocamento.

Queimaduras:
Sendo a passagem da corrente elétrica acompanhada por desenvolvimento de calor, por efeito de Joule, uma das consequências mais frequentes dos acidentes elétricos são as queimaduras.
Estas queimaduras revelam-se mais intensas nas zonas de entrada e saída da corrente porque:
• a pele, quando comparada com os tecidos internos, apresenta uma elevada resistência elétrica;
• à resistência da pele soma-se a resistência de contacto entre a pele e as partes sob tensão;
• nos pontos de entrada e saída da corrente, sobretudo se as áreas de contacto forem pequenas, a densidade de corrente é maior.
Existem ainda as queimaduras provocadas pela libertação de calor por arco elétrico, como acontece na soldadura.
Estas queimaduras que assumem graves proporções nos acidentes elétricos com alta tensão, são as de mais difícil tratamento, podendo provocar a morte por insuficiência renal.

Fibrilação ventricular
Este fenómeno fisiológico é o mais grave que pode ocorrer devido à passagem da corrente elétrica. Deve-se ao facto de aos impulsos elétricos naturais que provocam a contração muscular do músculo cardíaco, se sobrepor uma corrente externa que faz com que as fibras ventriculares passem a contrair-se de modo descontrolado.

Danos materiais são frequentemente resultantes de incêndios e/ou explosões provocados por anomalias na instalação.
Como tal irei referir os riscos que um trabalhador está sujeito ao trabalhar com material elétrico, as suas causas e consequências, assim como propor algumas medidas essenciais de proteção e segurança.

Figura nº 2- Sinal de Perigo de electrocussão
Conceitos Gerais:

No que respeita a riscos elétricos, devemos ter presente dois conceitos distintos, são estes: 

Eletrocussão - um choque eléctrico que origina um acidente mortal.

Eletrização - um choque elétrico que não causa um acidente mortal, mas que pode originar outro tipo de acidentes, com consequências que podem ser mais ou menos graves. 

A distância que vai entre a eletrocussão e eletrização é determinado por diferentes fatores. Assim, os efeitos da corrente elétrica variam de acordo com:
- A capacidade de reação da pessoa;
- A intensidade;
- A frequência;
- O percurso através do corpo;
- O tempo de passagem.

Desta forma, em baixa tensão, a morte está acima de tudo relacionada pela ação local da quantidade de eletricidade que atinge o coração. Em situações de alta tensão, a morte surge devido à extensão das queimaduras.

Como tal, a perigosidade da corrente reduz com o aumento da frequência. As frequências industriais (50/60hz) são as mais perigosas. Acima dos 10.000hz, os principais perigos são as queimaduras, no caso das correntes serem muito intensas.


Causas e respetivas consequências dos riscos elétricos

Como foi referido em publicações anteriores, o Regulamento de Segurança de Instalações de Utilização de Energia Eléctrica especifica duas categorias de riscos eléctricos para as pessoas, são estas:

Diretas:
- Contato acidental com uma peça do cabo condutor sob tensão;
- Defeito de isolamento da instalação elétrica.
Indiretas:
- Falta inesperada de electricidade;

- Ligação brusca à rede de alimentação.

Figura nº 3- Risco elétrico por contacto direto e indireto



Enumerando situações mais específicas, podemos identificar as causas mais frequentes de acidentes elétricos com condutores e ligações elétricas, como por exemplo:
- Utilizar fita adesiva para fazer isolamentos;
- Utilizar equipamentos com cabos de ligação deteriorados;
- Puxar pelo cabo de alimentação;
- Mover equipamentos ou aparelhos com cabos em tensão;
- Cabos arrastados, dobrados, entalados, queimados, etc..

No que toca aos acidentes domésticos envolvendo eletricidade estes devem-se na maior parte das vezes a:
- Sobrecarga das instalações;
- Trabalhos sob tensão;
- Restabelecimento da corrente;

- Falta de corrente.

Respetivamente à protecção das pessoas deve ser tido em conta o limiar do perigo para o organismo humano. Esse perigo altera consoante a intensidade da corrente: quanto maior, maiores efeitos fisiológicos terá para o ser humano.

Geralmente, a corrente circula das mãos para os pés ou de uma mão para a outra, situação esta que confere maior perigo.
O acidente é mais grave sempre que a trajetória da corrente atravessa o coração, sendo que o percurso mão direita-pé esquerdo é o que apresenta mais elevado risco de fibrilação ventricular.

O estado fisiológico e patológico do individuo, influencia de forma direta à recetividade da corrente elétrica por parte deste. Pois pode depender dos seguintes fatores:
- da fadiga;
- da saúde;
- da sede;
- da idade.

A intensidade da corrente que atravessará o corpo humano depende da resistência que este oferece à passagem da corrente elétrica. Essa resistência resulta da soma dos seguintes fatores:
- Resistência do ponto de contacto;
- Resistência dos tecidos internos que a corrente atravessa;

- Resistência da zona de saída da corrente.

Figura nº 4- Ilustração de falta de equipamentos de proteção, e do percurso da corrente elétrica através do corpo

Medidas de protecção e segurança:


Medidas informativas, estas são essenciais a qualquer situação, e têm como propósito alertar e dar a conhecer a existência dos riscos de eletricidade. Alguns casos deste tipo de medidas são:

- Instruções;
- Sinais;
- Normas de Segurança.

As medidas de proteção ativas são as mais adequadas no caso de se querer atuar contra a possibilidade de contatos diretos, tais como:
 - Uso da tensão reduzida de segurança;
- Afastamento das partes ativas;
- Recobrimento das partes ativas da instalação;
- Interposição de obstáculos.

As medidas de proteção passivas têm como objetivo proteger os indivíduos de contatos indiretos, tais como:
- Separação dos circuitos;
- Emprego de tensão reduzida de segurança.

Podemos ainda referir algumas medidas de proteção gerais tais como:
- Inacessibilidade simultânea de massas e elementos condutores estranhos à instalação;
- Estabelecimento de ligações equipotenciais;
- Isolamento dos elementos condutores estranhos à instalação.

Desta forma, os trabalhos em instalações elétricas devem:
- ter, por regra, a instalação fora de tensão;
- ser devidamente identificados e sinalizados;
- ser realizados por técnicos qualificados.
- ter em conta as 5 regras de ouro referidas em anteriores publicações.

Reflexão:

Ao ter recentemente conhecimento de que um trabalhador ao serviço do grupo EDP tinha sofrido em Bragança um acidente de trabalho mortal numa subestação, decidi abordar a problemática dos riscos elétricos em contexto de trabalho, bem como as consequências a nível material mas principalmente sob o ponto de vista humano e as respetivas medidas e ações de segurança e proteção desses mesmos riscos.
Ao longo dos últimos 3 meses ao qual realizei o estágio no departamento de segurança no trabalho da EDP Distribuição, foi-nos relatado muitos dos acidentes que decorreram ao longo dos anos, infelizmente alguns com vítimas mortais. 
Em alguns desses mesmos acidentes, verificou-se a perda de vida de mais do que um único trabalhador. Por motivos óbvios não vou descrever as circunstâncias em que os mesmos aconteceram, mas o fato de termos falado deles e discutido os fatores que culminaram nos desfechos fatídicos. Estes diálogos forneceu-nos a bagagem que nos permite analisar e identificar essas mesmas circunstâncias, e desta forma trabalhar de modo a prevenir que os mesmos não aconteçam no futuro.
Mas nem todos os acidentes que tivemos conhecimento resultaram em perda de vida, em três situações específicas tivemos a oportunidade de discutir com os mesmos trabalhadores que haviam sofrido acidente as causas que levaram à ocorrência do mesmo. Um dos acidentes deveu-se a explosão e consequente arco elétrico, outro resultou de queda em altura, e por fim aquele que mais controvérsia gerou deveu-se à tensão de passo, e digo que foi no mínimo controverso pois o trabalhador não apresentou mazelas físicas da saída da corrente do seu corpo, este fato suscitou uma interessante conversa com várias teorias validas de como o mesmo poderia ter ocorrido. 
Quero terminar a reflexão a este tema referindo algo que foi dito num dos encontros de segurança em que tive a oportunidade de participar, é um facto  que a grande maioria dos acidentes ocorrem em trabalhos devidamente planeados, e que apresentam rotina para os trabalhadores, estes fatores levam a que os trabalhadores talvez por excesso de confiança cometam erros que colocam a sua vida em causa.
Faz parte do nosso trabalho como técnicos de segurança, lembrar diariamente que o perigo é real e está presente, como tal nunca devem ser corridos riscos.
Os procedimentos devem ser seguidos escrupulosamente, assim como a utilização dos equipamentos de segurança, pois estes ditam a linha que separa a vida do fim dela.

Espero que esta publicação vos tenha sido útil, alguma questão que possam ter agora ou de futuro podem coloca-la neste espaço e tudo farei para responder.
Um muito obrigado…. :) 


Bibliografia: 

1- Palencar, M. Risk Communication and community right to know: Public Relations to inform, Janeiro 2008;

2-  Nunes, F. Manual Técnico: Segurança e Higiene do Trabalho, Setembro 2007;

3- Sargaço, J. Relatório Final de Estágio – Trabalhos em Tensão, Faculdade de Engenharia da Universidade do Porto, Junho 2007;

4-  EDP – Manual de Segurança – Prevenção do Risco Elétrico, Outubro 2002;

5- EDP– Regulamento de Segurança para a execução de trabalhos para a EDP, Dezembro 2012;



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