quinta-feira, 7 de novembro de 2013

Águas para Consumo Humano/Relatório de Colheita

Esta é uma das áreas de maior actuação do Técnico de Saúde Ambiental numa unidade de Saúde Publica, pois é das actividades que mais vezes têm que desenvolver pelo grande número de locais onde lhes compete efectuar as recolhas.
Conforme consta no Decreto-Lei nº 306/2007 águas para consumo humano são:

a) toda a água no seu estado original, ou após tratamento, destinada a ser bebida, a cozinhar, à preparação de alimentos, à higiene pessoal ou a outros fins domésticos, independentemente da sua origem e de ser fornecida a partir de uma rede de distribuição, de um camião ou navio-cisterna, em garrafas ou outros recipientes, com ou sem fins comerciais.”
b)  “ toda a água utilizada numa empresa da indústria alimentar para fabrico, transformação, conservação ou comercialização de produtos ou substâncias destinados ao consumo humano, assim como a utilizada na limpeza de superfícies, objetos e materiais que podem estar em contacto com os alimentos, exceto quando a utilização dessa água não afeta a salubridade do género alimentício na sua forma acabada.”

A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) estabeleçe recomendações nas colheitas de água para consumo humano, nº03/2010 onde constam os procedimentos a ter em conta nas colheitas de água para consumo humano, estas representam um complemento ao Decreto-Lei nº306/2007.

Análise Físico-Química:
Escolher, preferencialmente, uma torneia de água fria;
-  Retirar, se possível, os acessórios externos e adaptados à torneira (filtros);
Sem escoamento prévio, abrir a torneira e recolher o primeiro litro de água estagnada num frasco preparado para a análise de metais. Esta amostra, obrigatoriamente de 1 litro, é utilizada para a análise do chumbo, níquel, e cobre na água estagnada nas torneiras do consumidor. Na colheita de amostras onde não se pretende analisar os metais chumbo, níquel e cobre esta fase não é necessária, procedendo de imediato à fase seguinte;
Abrir a torneira e deixar a água escorrer durante cerca de 5 a 10 segundos com fluxo máximo, reduzir o fluxo e deixar correr; 
-  Sem fechar a torneira, recolher a amostra em frasco próprio para análise dos parâmetros físico-químicos, com a tampa do frasco virada para baixo;
 Identificar devidamente todos os frascos com etiquetas próprias;
- Colocar os frascos das amostras em malas térmicas, devidamente limpas, dotadas de acumuladores de frio, de modo a garantir a correcta refrigeração das amostras até a sua entrega no laboratório acreditado para posterior análise da qualidade da água.

Análise Microbiológica:
  -   Desinfetar as mãos (ex: álcool);
 - Escolher, preferencialmente, uma torneia de água fria;
 - Retirar, se possível, os acessórios externos e adaptados à torneira (filtros);
- Desinfetar a torneira com o flamejador;
- Abrir a torneira e deixar a água escorrer durante cerca de 5 a 10 segundos com fluxo máximo, reduzir o fluxo e deixar correr para eliminar a interferência do desinfetante e da temperatura do flamejamento;
-Sem fechar a torneira, recolher a amostra em frasco estéril com tiossulfato de sódio com a tampa do frasco virada para baixo, garantindo condições de assepsia;
Para evitar contaminações, garantir que o frasco estéril só deverá estar aberto pelo período de tempo estritamente necessário para a recolha da amostra;
Identificar devidamente todos os frascos com etiquetas próprias;
- Colocar os frascos das amostras em malas térmicas, devidamente limpas, dotadas de acumuladores de frio, de modo a garantir a correcta refrigeração das amostras até a sua entrega no laboratório acreditado para posterior análise da qualidade da água.

Para poder determinar a qualidade da água é necessário proceder a diferentes tipos de análises:

 Análises de Campo (AC) – verificação do teor de desinfetante residual (cloro residual livre) que no caso deste tipo de águas deverá estar entre o intervalo de o,2-0,6 mg/L; pH que deverá apresentar valores entre 6,5-9 e por fim a temperatura. Parâmetros estes que são determinados no próprio local de colheita das amostras.

Análises Físico-Químicas (AFQ) - determinação dos parâmetros físico-químicos.

Figura 1- Parâmetros Físico-Quimícos da água destinada ao consumo humano.
Análises Microbiológicas (AM) - determinação dos parâmetros microbiológicos.

Figura 2- Parâmetros Microbiológicos da água destinada ao consumo humano.


Ao efectuar a colheita é necessário preencher uma folha onde constem algumas indicações:
               - Identificação do ponto de colheita;
               - Data e hora da colheita
               - Características da água;
 - Registo dos resultados dos parâmetros analisados no local, nomeadamente   do teor de desinfetante residual (habitualmente cloro residual livre), pH e temperatura;
              - Parâmetros a determinar no laboratório (AM, AFQ).

De forma a transmitir uma ideia mais real da intervenção do Técnico de Saúde Ambiental na vigilância de água para consumo humano , publicarei em seguida em relatório que tive que desenvolver nesta Unidade de Saúde Pública (este relatório não fará referencia ao nome da Técnica de Saúde Ambiental que me acompanhou na colheita nem ao local onde a mesma foi efectuada):

Relatório de Análise de Colheita

No dia 14 do mês de Outubro do ano 2013, a Técnica de Saúde Ambiental, fazendo-se acompanhar pelo estagiário do curso de Saúde Ambiental, Miguel Lampreia, realizaram uma colheita de água com destino ao consumo humano. A colheita efectuou-se numa torneira de uma habitação e posteriormente foi enviada para análise bacteriológica e físico-química, no Laboratório de Saúde Pública de Beja.
Na receção do relatório da colheita, foi possível verificar que uns dos parâmetros, os nitratos, não se encontravam de acordo com o valor de referência da legislação (Decreto-Lei nº 306/2007, de 27 de Agosto), sendo o limite de nitratos permitido de 50 mg/L. Este aumento de concentração de nitratos na água poderá originar consequências bastante negativas para a saúde da população, já que a toxicidade dos nitratos é principalmente atribuída à sua redução a nitrito e o maior efeito biológico dos nitritos em humanos é o seu envolvimento na oxidação da hemoglobina a metahemoglobina, sendo esta incapaz de se ligar e transportar oxigénio.
Desta forma, recomenda-se à entidade responsável, que sigam algumas medidas de forma a diminuir a concentração de nitratos na água da rede:

- Aplicação dos métodos de osmose inversa e permuta iónica;

Reforço do processo de desnitrificação.


Figura 3- Flamejar a torneira

Figura 4- Frascos das Amostras

Figura 5- Colheita da Amostra

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a qualidade da água para consumo humano é um indicador essencial para a avaliação do nível de saúde das populações. Em Portugal a Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR) atribui a entidades gestoras selos de qualidade exemplar da água para consumo humano. Os selos de "Qualidade exemplar da água para consumo humano" procuram distinguir as entidades prestadoras de serviços de abastecimento público de água, que ao longo do último ano tenham assegurado regularmente uma qualidade exemplar da água para consumo humano. Em Portugal a água para consumo humano tem vindo ao longo dos anos dado mostras da sua qualidade, no entanto de forma a distinguir as entidades que, dentro de um universo garante 98% de água segura, se distinguem pela excelência. 
De entre as 403 entidades que prestam o serviço de abastecimento público de água, foram atribuídos pela primeira vez a 61 entidades gestoras de serviços de abastecimento público de água.
Entidades distinguidas:
  • AGERE
  • AGS - Paços de Ferreira
  • Águas da Azambuja
  • Águas da Figueira
  • Águas da Região de Aveiro
  • Águas de Alenquer
  • Águas de Barcelos
  • Águas de Cascais
  • Águas de Coimbra
  • Águas de Gondomar
  • Águas de Mafra
  • Águas de Ourém
  • Águas de Paredes
  • Águas de S. João
  • Águas de Trás-os-Montes e Alto Douro
  • Águas de Valongo
  • Águas do Algarve
  • Águas do Centro
  • Águas do Centro Alentejo
  • Águas do Douro e Paiva
  • Águas do Lena
  • Águas do Marco
  • Águas do Mondego
  • Águas do Noroeste
  • Águas do Oeste
  • Águas do Sado
  • Águas do Vouga
  • Águas do Zêzere e Côa
  • Águas e Parque Biológico de Gaia
  • Cartágua
  • CM de Albufeira
  • CM de Almeida
  • CM de Barreiro
  • CM de Bombarral
  • CM de Lagoa
  • CM de Moita
  • CM de Óbidos
  • CM de Penacova
  • CM de Póvoa de Varzim
  • CM de São Brás de Alportel
  • CM de Silves
  • EAmb - Esposende Ambiente, EEM
  • EPAL
  • ICOVI
  • Indaqua Fafe
  • Indaqua Matosinhos
  • Indaqua Santo Tirso/Trofa
  • Indaqua Vila do Conde
  • INFRALOBO
  • INFRAMOURA
  • INOVA
  • Luságua Alcanena - Gestão de Águas
  • SM de Castelo Branco
  • SM de Nazaré
  • SMAS de Almada
  • SMAS de Montijo
  • SMAS de Sintra
  • SMAS de Tomar
  • SMAS de Viseu
  • SMSB de Viana do Castelo
  • Tavira Verde
Fontes:
- Decreto-Lei nº 82/2009, de 2 de Abril:
http://dre.pt/pdf1s/2009/04/06500/0206202065.pdf
- Decreto-Lei nº 306/2007, de 27 de Agosto:
http://dre.pt/pdf1sdip/2007/08/16400/0574705765.pdf
Recomendações da Entidade Reguladora dos Serviços de Água e Resíduos (ERSAR) nº 03/2010:
http://www.ersar.pt/website/ViewContent.aspx?SubFolderPath=%5cRoot%5cContents%5cSitio%5cMenuPrincipal%5cDocumentacao%5cPublicacoesexternas&Section=MenuPrincipal&FolderPath=%5cRoot%5cContents%5cSitio%5cMenuPrincipal%5cDocumentacao&GenericContentId=0&BookID=2357
- Programa de Vigilância Sanitária da Água para Consumo Humano (2011):
http://portal.arsnorte.minsaude.pt/portal/page/portal/ARSNorte/Conte%C3%BAdos/Sa%C3%BAde%20P%C3%BAblica%20Conteudos/Agua_Consumo_Programa2011_PVSACH.pdf
Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR):
http://www.ersar.pt

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